Painting with a Camera
English photographer Patrick Nicholas photographs ordinary women in the manner of masterpieces of painting. But he adds a touch of humour: Venus at her mirror is no more but is now seen in a plasma screen, and what is more with a tattoo. By Luís Silvestre
It all started with a an announcement in an Italian newspaper, La Voce di Romagna from Rimini: “Looking for amateur models to recreate old master paintings” On the same page was a photo of a young woman covered only by her long blond hair, balancing on the bow of a yacht, exactly imitating the pose of the famous Italian painting Botticelli’s Birth of Venus.
The model was Rosaria Russo, 28, an economics student from Bologna University and a friend of the photographer. “ I found her very similar to Botticelli’s picture” the photographer told Sábado.” I needed to create an image that was immediately recognisable in order to convince others to take part in this project.”
To the photographer’s surprise no less than 13 women answered the call. The were ordinary people just as Patrick wished, disposed to do something out of the ordinary. The shooting was planned to take place over several weeks with six scenes in all taken from celebrated pictures – one shoot every two weeks. “This work demands a good deal of preparation time. First I talk with the women and try to get a feel for which artwork would suit best their personality.”
This was the case with Gaia Chon, 23. When they first met the photographer was taken by her exotic air. He discovered she had a Chinese grandfather and her sensuality was close to that of Maria Schneider, the actress who played opposite Marlon Brando in “The last Tango in Paris”. “ After several meetings I concluded that she was the ideal woman to recreate the image of Goya’s “Maja Desnuda”.
One of the peculiarities of this job is the inclusion of modern objects in the photo. For the recreation of Velazquez’s “Venus at her Mirror” (The Rokeby Venus), the photographer has substituted an ultra modern plasma TV screen in place of the reflection in the mirror, what is more the model has a tattoo on her back. “ I don’t want to show a lack of respect for the old masters, I don’t want to offend anyone.” says the photographer. “I think we can meet the challenge of these masterpieces with irony and wit without getting a complex.”
Sometimes these modern accoutrements are suggested by the women themselves. “Some bring jewellery, scarves, accessories and other personal objects. But at times there are surprises. In Rosaria’s case, she said she wanted to show me a large scar on her tummy. She was proud of it and wanted to show it off”. In the case of The Grande Odalisque by Ingres he substituted the feathers with a telephone.
For this project the photographer wanted women with no prior experience of modelling. Another requirement was that nobody received payment; they had to strip purely for art’s sake.
Patrick Nicholas expressed surprise by the openness of some of the amateur models. One of the women during the shoot said “ I decided to do this to see myself in a different light, to see an image of myself that was different from the usual me, the working woman. It’s not easy to find someone or something that makes me feel like a beauty. This man transforms any normal girl into a goddess.”
The photographer’s choice of models has much in common with the painters of the past who used ordinary women; a case in point is Renaissance master Raphael’s “Fornarina” which simply means “Baker’s Wife”, which is exactly what she was.
Patrick Nicholas gives an example of controversy: “Le Dejeuner su l’Herbe” Manet created a scandal with this picture in 1870 because it depicts a normal woman, a woman of her times, naked at an informal picnic and not part of a mythological subject which would otherwise have rendered the picture respectable.”
The reception by the public of this photographic project was also surprising. “The female body is popular with both sexes. It is interesting to note that when some of these pictures were exhibited in London, it was women who manifested most interest, noting the fact that many models did not conform to the norms of fashion, they liked the bigger sizes; what is more they made comments about the details in the pictures calling over their friends to take a closer look. “Maybe Bridget Jones was an influence.” he said.
Patrick Nicholas started these photos as a challenge when approached by Nicholas Farrell, journalist at La Voce di Romagna. Farrell had seen one of Patrick’s earlier pictures in post card form, showing a woman in a bath imitating the death of Marat by Davide. Farrell proposed that using normal women from the area of Italy where he lived would be a way of elevating the Romagna and its beautiful women. This area in North East Italy was home to the Etruscan civilisation, noted for its exquisite art that preceded the Roman. In other words, modern Etruscan women as a symbol of determination.
Patrick Nicholas immediately accepted the idea. To be sure this English photographer, 54, originally from Oxford, does not hide his admiration for Italians as his personal history bears out. In 1981 after working in various assisting jobs in London and then as an advertising photographer came to Italy to photograph a simple travel brochure, this last was to change his life for ever. He was so impressed by the natural beauty of Italy, and the hospitality of the people, that he never went back. Now he lives in an isolated village on Lake Bolsena a hundred kilometres or so north of Rome where he runs his own photography gallery in nearby Orvieto and also operates photography workshops under the name Camera Etrusca in the Tuscan countryside.
Pintar com uma câmara
O inglês Patrick Nicholas fotografa mulheres normais nos mesmos cenários das grandes obras-primas da pintura. Mas dá-lhes um toque de humor: as suas vénus já não usam espelhos, mas sim ecrãs de plasma — e até têm tatuagens. Por Luís Silvestre
Tudo começou com um anúncio no jornal italiano La Voce di Romagna, de Rimini: “Procuram-se modelos amadoras para recriar as grandes obras-primas da pintura.” Na mesma página vinha a fotografia de uma jovem, coberta apenas com os longos cabelos loiros, equilibrando-se sobre a bóia de um vistoso iate, imitando, na pose e no cenário, o famoso quadro do italiano Botticelli O Nascimento de Vénus.
O retrato servia para mostrar que aquele era um anúncio sério. Tinha sido colocado por Patrick Nicholas, um fotógrafo britânico que se propunha reinventar os clássicos dos mestres da pintura com mulheres comuns que estivessem dispostas a posar nuas para a objectiva da sua câmara.
A da fotografia era Rosária Russo, de 28 anos, estudante de economia na Universidade de Bolonha e amiga do fotógrafo. “Sempre a achei muito parecida com a imagem do quadro de Botticelli “, contou o fotógrafo à SÁBADO. “Precisava de ter a imagem de uma pintura muito conhecida para convencer outras pessoas a participarem neste projecto.”
Para surpresa do fotógrafo, 13 mulheres responderam ao anúncio. Eram pessoas normais, tal como Patrick pretendia, que procuravam uma experiência nova. O trabalho foi feito ao longo de vários meses e ainda não terminou – desde então, já foram fotografadas mais seis cenas de quadros célebres. “Este trabalho exige algum tempo de preparação e disponibilidade. Falo primeiro com as mulheres e tento perceber qual a obra de arte que melhor se encaixa nas respectivas personalidades e não o contrário.”
Foi o caso de Gaia Chon, de 23 anos. Quando a encontrou pela primeira vez, o fotógrafo ficou impressionado com o seu ar exótico. Descobriu que tinha uma avó chinesa e a sua sensualidade era semelhante à de Maria Schneider, a actriz que contracenou com Marlon Brando no filme O Último Tango em Paris. “Depois de várias reuniões, achei que ela era a mulher ideal para recriar o quadro La Maja Desnuda [Mulher Despida], do espanhol Francisco Goya”, conta o fotógrafo.
Uma das particularidades deste trabalho é juntar objectos modernos nas fotografias. Para a recriação de Vénus ao Espelho, do também espanhol Velásquez, por exemplo, o fotógrafo substituiu o reflexo da deusa num espelho por um ultramoderno ecrã de televisão de plasma e mostrou a modelo com uma tatuagem. “Eu não quero desrespeitar os grandes mestres da pintura, nem escandalizar ninguém”, diz o fotógrafo. “Acho que podemos simplesmente abordar estas obras com humor e ironia, sem complexos.”
Por vezes esses objectos modernos são sugeridos pelas próprias mulheres. “Algumas trazem jóias, lenços, peças de roupa ou outros objectos pessoais. Mas às vezes também há surpresas. No caso de Rosália, ela disse apenas que queria mostrar uma cicatriz que tem na barriga.” É assim que nascem as ideias para os adereços das fotografias. No caso da recriação dê A Grande Odalisca, do francês Ingres, Patrick Nicholas substituiu o leque de penas de pavão por um telefone.
O fotógrafo queria que neste projecto apenas participassem mulheres sem qualquer experiência prévia no mundo artístico. Outra condição essencial era que todas colaborassem sem exigir qualquer pagamento. Deveriam despir-se apenas por amor à arte.
Patrick Nicholas confessa que ficou surpreendido com a reacção aberta de algumas das modelos amadoras. Uma das mulheres que está agora a fotografar disse-lhe: “Participei neste trabalho para me ver de outra forma, diferente da imagem que tenho de mim mesma no meu emprego. Não é fácil encontrar alguém ou alguma coisa que me faça sentir bela. Este trabalho transforma qualquer rapariga normal numa deusa.”
A escolha de mulheres comuns para modelos representa, para o fotógrafo, a tentativa de recriar os métodos de muitos génios da pintura, que recorriam a mulheres normais para as suas obras. Um dos exemplos é o quadro La Fornarina, do mestre da Renascença italiana Rafael: fornarina significa padeira em italiano. Neste caso, o pintor usou como modelo uma mulher do povo, com uma profissão banal.
Patrick Nicholas dá outro exemplo mais polémico:”O quadro Le Dejeuner sur l’Herbe (Almoço na Relva), do francês Manet, causou escândalo em 1870 porque retratava uma mulher normal do seu tempo, nua num piquenique informal e não numa cena mitológica, onde era aceitável representar as deusas sem roupa.”
A reacção do público a este projecto fotográfico também foi surpreendente. “O corpo feminino é popular entre os dois sexos. Curiosamente, quando estas fotografias foram expostas em Londres havia mais mulheres do que homens a ver os cartazes que anunciavam a exposição”, diz.
O fotógrafo conta ainda que as mulheres comentavam os detalhes de cada imagem e apreciavam mais os corpos roliços do que aqueles que seguiam os padrões estéticos da moda. “Talvez seja influência da personagem Bridget Jones [conhecida por ter peso a mais].”
Patrick Nicholas iniciou-se nestas fotografias a partir de um desafio que lhe foi lançado por Nicholas Farrel, repórter do jornal La Voce di Romagna. O jornalista conhecia um trabalho antigo dele – uma fotografia de 1987, mostrando uma mulher na banheira, imitando a pose do quadro A Morte de Marat, de Louis David, pintor francês – e achou que o retrato de mulheres normais interpretando as musas das obras-primas da arte poderia ser uma forma de homenagear a região de Romana pertentente à Província Emília-Romana (que includi precisamente Bolonha e Rimini). Esta região situa-se no centro-norte de Itália e foi o berço da grande civilização etrusca, célebre pela arte requintada, que antecedeu o império romano. As mulheres etruscas ficarampara a história como símbolo de determinação.
Patrick Nicholas concordou com a idea de imediato. Aliás, o fotógrafo inglês, nascido em Oxford há 54 anos, não esconde a admiração que sente por este povo, como prova o seu próprio percurso. Em 1981, depois de ter trabalhado como assistente de imagem em varios programmas de televisão na Grã-Bretanha e como fotógrafo de publicidade, viajou até Itália para tirar fotos para um catálogo de férias. Aquilo que aparentemente era apenas um compromisso profissional acabou por mudar a sua carreira para sempre.
Ficou tão impressionado com a beleza dos cenários naturais italianos e com a hospitalidade das populações que decidiu ficar aí a viver. Hoje mora numa casa isolada junto ao lago Bolsena, cem quilómetros a norte de Roma, onde fundou uma associação artística, a Camera Etrusca, que promove exposições e cursos no centro de Itália (ver caixa).”É uma forma agradável de ensinar fotografia a amadores com gosto nesta arte”.